Difícil imaginar que um simples voo internacional colocaria em alerta várias forças de defesa militar da Europa central e oriental, na última quinta-feira, 27 de fevereiro.
Apesar da decolagem com 26 minutos de atraso no terminal de Heathrow, as condições meteorológicas indicavam uma rota tranquila para o Boeing 777-200 fabricado em 2005, cumprindo o voo PK-786 da Pakistan International Airlines.
Minutos depois de sobrevoar o espaço aéreo alemão, no entanto, a tripulação do Boeing não respondeu as chamadas feitas pelo Controle de Tráfego Aéreo local. Em todo o mundo, esses órgãos são tratados por ATC.
A falta de resposta do jato se repetiu sobre a República Tcheca, que por via das dúvidas, despachou 2 caças para averiguar a situação mais de perto. Os aviões militares realizaram manobras para garantir que fossem vistos pelo Boeing e emitiram sinais visuais. As tentativas de contato foram inúteis.
O ATC tcheco chegou a instruir a tripulação paquistanesa a apertar em seu transponder a opção “ident”, abreviação de ‘identify’. Não houve resposta. O transponder é um dispositivo eletrônico que emite sinais por rádio-frequência. Na falta de comunicação via rádio, a tripulação tem a opção de usar códigos no transponder padronizados pela aviação mundial. Para falha de comunicação, por exemplo, o piloto digita o número 7600. Em caso de emergência, 7700. Já o código 7500 indica “intruso na cabine”, usado em situações de sequestro.
O Controle de Tráfego ainda tentou se comunicar por 121,5 Mhz, a frequência mundial ‘GUARD’ utilizada na aviação civil, reservada para situaçoes especiais e também conhecida como ‘IAD’, ou, International Air Distress.
A comunicação só foi normalizada quando a aeronave sobrevoava o setor de responsabilidade do ATC de Bucareste, na Romênia. Eram 20h18 pelo horário UTC, 17h18 pelo horário de Brasília. Ao todo o avião de passageiros paquistanês permaneceu quase uma hora incomunicável.
Como o Boeing seguia a rota prevista em seu plano de voo original, nivelado em 37.000 pés, nenhuma atitude hostil foi tomada pelos caças.
Aeronaves em rotas internacionais são obrigadas a se comunicar com os ATCs de cada território sobrevoado. Estranhamente, os pilotos do Boeing 777 não cumpriram esta determinação básica, e mais grave, não responderam as iniciativas dos caças militares.
O ‘Triple Seven’, como é chamado em inglês, é uma das aeronaves mais conceituadas na aviação comercial. É equipada com vários sistemas de comunicação, estratégia conhecida no meio aeronáutico como ‘redundância’, o que permite a mais de um dispositivo executar uma mesma função, caso haja falha em equipamentos similares.
Questionada por jornalistas, a Pakistan International Airlines ainda não se manifestou sobre o ocorrido na cabine de seu jato intercontinental, embora forças aeronáuticas dos países citados tenham confirmado a ocorrência.
As evidências indicam, contudo, a possibilidade de ter havido uma grande violação de protocolo cometida pela tripulação do voo PK-786. Aviões comerciais jamais cruzariam áreas de Controle de Tráfego, escoltados por caças, sem utilizar qualquer forma de comunicação.
É esperado que em breve, ao contrário de seus pilotos, a Pakistan International Airlines rompa a barreira do silêncio. E garanta aos passageiros que sua tripulação está apta a seguir protocolos básicos da aviação civil.