O avanço da tecnologia trouxe inúmeros benefícios à sociedade, mas seu uso inadequado tem levantado sérias preocupações entre especialistas da área da saúde e educação. O uso exagerado de celulares, especialmente entre crianças e adolescentes, tem gerado impactos alarmantes na aprendizagem, na saúde física e mental, e até nas relações sociais.
A reportagem da Rádio Tucunaré e do portal Acesse Notícias ouviu pessoas que atuam diretamente com jovens e famílias e que relatam situações preocupantes. O Pastor Edgar Fortunato da Igreja Presbiteriana do Brasil, que há anos desenvolve um trabalho com adolescentes e jovens na igreja, compartilhou sua experiência.
Segundo ele, muitos jovens apresentam dificuldades de atenção, isolamento social e até crises emocionais, situações que ele associa diretamente ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos.
“Infelizmente, temos visto adolescentes que não conseguem se concentrar em uma conversa simples. Estão sempre com o celular na mão, e quando não estão conectados, ficam agitados, ansiosos. Isso tem afetado também sua vida espiritual e suas relações familiares”, relatou o pastor.
A psicóloga Fernanda, que já atuou no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e atualmente trabalha no setor de saúde, também trouxe alertas importantes. De acordo com ela, há um aumento expressivo de atendimentos envolvendo crianças com dificuldades emocionais e de comportamento relacionadas ao uso exagerado de tecnologia.
“É comum encontrarmos casos de crianças que trocam o sono por horas em frente ao celular, jogando ou assistindo vídeos. Isso compromete o rendimento escolar e a convivência social. Crianças que antes brincavam juntas agora se isolam, têm dificuldade em construir amizades reais. Até as amizades presenciais estão se acabando”, afirmou a psicóloga.
Especialistas alertam que o uso excessivo da tecnologia, especialmente sem acompanhamento ou limites por parte dos pais e responsáveis, pode causar problemas sérios como insônia, ansiedade, depressão, déficit de atenção e sedentarismo, além de afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo e emocional.
A recomendação é que pais e educadores acompanhem de perto o tempo de exposição das crianças às telas, incentivem atividades ao ar livre, leitura e interações sociais reais, e estabeleçam horários e limites claros para o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos.
A reflexão sobre o uso da tecnologia não é apenas um tema de saúde, mas uma questão de futuro. Se não for bem administrado, o avanço tecnológico pode deixar um rastro de prejuízos na formação das novas gerações.
Tanto o Pastor Edgar Fortunato quanto a psicóloga Ellen Fernanda foram enfáticos em destacar que a tecnologia, por si só, não é a vilã da história.
Ambos concordam que ela é essencial nos dias atuais, pois vivemos em um mundo cada vez mais tecnológico, onde praticamente todas as áreas desde o trabalho até a educação dependem do uso de ferramentas digitais.
“Não estamos dizendo que a tecnologia deve ser abolida, pelo contrário. Ela é uma bênção quando usada com sabedoria. O problema é quando ela domina a vida da pessoa, principalmente das crianças, que ainda estão em formação”, explicou o pastor Edgar. Ele defende que os pais devem ser exemplos dentro de casa, mostrando equilíbrio e ensinando os filhos a fazerem um uso responsável e saudável dos dispositivos eletrônicos.
A psicóloga Ellen Fernanda reforçou essa ideia e destacou a importância de orientar, em vez de simplesmente proibir. “A tecnologia faz parte do nosso cotidiano e traz muitas facilidades. É através dela que estudamos, trabalhamos, nos comunicamos. Mas ela precisa ser usada com inteligência emocional, com limites bem definidos. Quando usada da forma correta, ela pode ser uma grande aliada no desenvolvimento das crianças e adolescentes”, ressaltou.
Ellen ainda alertou para a necessidade de educação digital, tanto nas famílias quanto nas escolas, como forma de prevenir problemas futuros. “É preciso ensinar as novas gerações a usarem a tecnologia a seu favor, com equilíbrio. Isso inclui saber o momento de desligar, de olhar nos olhos, de conversar pessoalmente e de viver o mundo real.”
A conclusão de ambos é clara: a tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas como toda ferramenta, depende da forma como é utilizada. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre o mundo digital e a vida real, garantindo o bem-estar físico, mental e emocional de todos, especialmente das crianças e jovens em fase de desenvolvimento.