Juara – Mato Grosso

7 de outubro de 2025 16:35

CPI da Saúde divulga relatório parcial e relator detalha situação da gestão da saúde em Juara

A Câmara de Vereadores de Juara tornou público, no dia 18 de setembro, o relatório parcial da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, que investiga irregularidades na Secretaria Municipal de Saúde e no Hospital Municipal Elídia Maschietto Santillo.

O documento, lido em plenário, foi complementado por uma entrevista do relator da CPI, vereador Luciano Olivetto, à Rádio Tucunaré, na noite do mesmo dia.

Segundo o relator, o objetivo principal é dar transparência à população sobre problemas já identificados que comprometem diretamente a saúde pública. “Não poderíamos aguardar apenas o relatório final, pois vidas estão em risco. Era necessário apresentar à sociedade o que já foi apurado”, destacou o parlamentar.

  1. Contexto da CPI
  • Origem: Criada a partir de denúncias de usuários, servidores e matérias da imprensa local.
  • Prazo: Comissão com duração inicial de 90 dias, podendo ser prorrogada.
  • Objetivo: Investigar denúncias de precariedade no atendimento hospitalar, contratos irregulares, diárias suspeitas, plantões fantasmas e elevado número de óbitos em curto período.
  • Método:
    • 7 reuniões ordinárias e 2 extraordinárias;
    • 30 depoimentos colhidos;
    • 27 ofícios expedidos a órgãos de saúde e laboratórios;
    • diligências in loco no hospital e na secretaria;
    • análise de mais de 14 mil páginas de documentos
  1. Principais falhas apuradas

2.1 Testes do pezinho

  • O que foi descoberto: Mais de 80 amostras de recém-nascidos ficaram retidas entre setembro e novembro de 2024.
  • Problema: Parte dos exames não foi enviada a Cuiabá e outra parte se perdeu por armazenamento inadequado, inclusive em geladeira de uso comum da secretaria.
  • Consequência: Mães precisaram repetir o exame fora do prazo ideal, comprometendo a detecção precoce de doenças.
  • Relato do relator: Luciano Oliveto afirmou que esse erro “não foi um caso isolado, mas sim uma prática repetida que demonstra falhas graves no fluxo de trabalho”.

2.2 Amostras de biópsias (anatomopatológicas)

  • O que foi descoberto: Mais de cem peças biológicas de cirurgias ficaram estocadas em locais impróprios, inclusive em freezers destinados a lixo hospitalar.
  • Tempo: Parte do material ficou parada por mais de um ano sem envio para análise.
  • Risco: Comprometimento da validade dos diagnósticos e prejuízo a pacientes que aguardavam laudos.
  • Relato do relator: Segundo Oliveto, “houve negligência reiterada, pois os servidores e gestores sabiam das devoluções dos laboratórios e nada foi corrigido”.
  1. Problemas administrativos e estruturais

A CPI apontou falhas sistêmicas que agravam os riscos à população:

  • inexistência de protocolos padronizados no hospital;
  • falta de controle sobre saída e retorno de exames;
  • servidores sem treinamento técnico adequado;
  • registros manuais frágeis e com erros;
  • locais inadequados para armazenagem de material biológico;
  • sobrecarga e remanejamento de servidores sem capacitação específica.

O relator ressaltou que tais problemas representam omissão administrativa e podem configurar ato de improbidade, além de responsabilidade civil e até criminal.

  1. Entrevista do relator à Rádio Tucunaré

Na entrevista, o relator reforçou os principais pontos já apresentados no relatório parcial e acrescentou detalhes importantes:

4.1 Gravidade dos testes do pezinho

  • O vereador destacou que dezenas de exames foram extraviados dentro da própria Secretaria de Saúde, e não nas unidades básicas, que atuaram corretamente.
  • Segundo ele, o erro foi identificado de forma tardia, ultrapassando o prazo de 28 dias previsto pelo Ministério da Saúde.
  • “Isso coloca em risco a vida das crianças, que ficaram sem a possibilidade de realizar o teste no tempo certo. É uma situação gravíssima”, afirmou

4.2 Biópsias retidas

  • Relatou que, ao longo de 18 meses, amostras cirúrgicas foram mal identificadas e permaneceram sem análise.
  • “Não havia assinatura de médicos, havia formulários preenchidos de forma duvidosa. Diversas pessoas sabiam do problema e nada fizeram, até que a denúncia veio a público e o Ministério Público exigiu providências”, relatou
  • O parlamentar citou o caso de um paciente tratado como se tivesse câncer em fase terminal, quando na realidade não tinha a doença. O diagnóstico só foi conhecido após meses, quando a biópsia foi finalmente analisada.

4.3 Descaso com pacientes e famílias

  • O relator relatou depoimentos de mães que aguardaram por meses os resultados dos testes de seus bebês sem qualquer retorno.
  • Uma mãe, por exemplo, acompanhava com cuidado toda a gestação e se desesperou ao perceber que o exame do filho nunca havia sido processado.
  • “São situações tristes, desumanas, que mostram um ambiente de negligência sistêmica na saúde pública de Juara”, frisou
  1. Indícios de fraudes e irregularidades
  • Luciano Oliveto confirmou que houve alteração de datas e assinaturas em formulários de exames, o que pode configurar falsidade documental.
  • Segundo ele, em alguns casos médicos ou técnicos assinavam documentos sem serem os responsáveis diretos, na tentativa de viabilizar o procedimento.
  • “Fraudar um documento de saúde é algo muito sério. Esperamos que o Ministério Público e os conselhos de classe avaliem e responsabilizem os envolvidos”, disse
  1. Chamado à responsabilidade e próximos passos
  • O relator afirmou que a CPI continua por mais tres meses, com novas frentes de apuração, incluindo denúncias sobre plantões fantasmas e uso irregular de diárias.
  • Reforçou que o relatório parcial foi apenas a primeira etapa e que novas provas estão sendo reunidas.
  • “Peço à população que continue denunciando. Médico, enfermeiro ou gestor não estão acima da lei. Todos devem responder por suas responsabilidades. Nós 7. Recomendações da CPI

Entre as recomendações imediatas, a CPI reforça:

  • afastamento preventivo de gestores ligados às falhas;
  • revisão urgente dos protocolos de coleta e envio de exames;
  • capacitação imediata dos servidores em áreas técnicas;
  • encaminhamento das provas ao Ministério Público, conselhos de classe e órgãos de fiscalização para responsabilizações civis, administrativas e penais

Fonte: Rádio tucunaré e Acesse Notícias

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