A cidade de Cuiabá registrou, em 2024, o pior desempenho fiscal entre todas as capitais brasileiras, de acordo com o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), divulgado na última quinta-feira (18). O levantamento aponta que a capital mato-grossense encerrou o ano com nota zero em liquidez, o que significa que não possuía recursos em caixa suficientes para quitar despesas já assumidas.
O estudo também classificou como crítico o nível de investimentos realizados, colocando o município na última posição do ranking nacional.
Segundo o economista Carlos Castilho, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e mestre pela UFMT, os indicadores de Cuiabá ficaram abaixo da média nacional e também de municípios de porte semelhante. “O único ponto positivo foi o indicador de Autonomia, que atingiu nota 1, demonstrando capacidade de sustentar a estrutura administrativa. Já em liquidez, a nota foi zero, mostrando incapacidade de cobrir compromissos financeiros”, explicou.
Déficit e contenção de gastos
Em nota, a prefeitura informou que entre 2017 e 2024 as despesas cresceram 135%, enquanto a arrecadação aumentou 115%, ampliando o desequilíbrio fiscal. Assim que assumiu o cargo, o prefeito Abilio Brunini (PL) decretou calamidade financeira, apontando déficit de R$ 518 milhões herdado da gestão anterior, além de R$ 369 milhões em despesas sem previsão de pagamento.
Para enfrentar a situação, a atual administração anunciou medidas de contenção de gastos, incluindo a fusão de secretarias — como Esporte e Cultura, agora vinculadas à Educação — e a criação de um comitê de gestão fiscal, que acompanha mensalmente os números financeiros.
Além disso, uma comissão de revisão de contratos avaliou 881 vínculos firmados anteriormente, gerando, segundo a prefeitura, uma economia de R$ 217 milhões, sobretudo em serviços de Tecnologia da Informação. Para 2025, a previsão é de déficit de R$ 400 milhões, redução de 22,7% em relação ao ano passado.
Reformas estruturais
Especialistas ouvidos pela reportagem alertam, no entanto, que apenas cortar despesas não garante o equilíbrio a longo prazo. Para a consultora Selene Peres, uma das autoras da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ideal é que o município adote reformas mais abrangentes.
“É preciso um diagnóstico detalhado. Do lado da receita, é possível ampliar a arrecadação sem aumentar impostos, por meio de cruzamento de dados e melhoria no relacionamento entre fisco e contribuinte. Do lado da despesa, cabe revisar a folha de pagamento, planejar melhor os gastos e avaliar ativos municipais”, afirmou.
Na mesma linha, Castilho reforça que apenas a austeridade orçamentária não é suficiente para devolver liquidez às contas da prefeitura.