Flávio Donizete foi campeão do mundo pelo São Paulo em 2005. Não entrou em campo, mas fez parte do elenco e ganhou a medalha pela conquista no Japão. O futuro daquele jovem de 21 anos, porém, o levou para o caminho das drogas. E o vício em cocaína o fez até vender o símbolo daquele título.
Aos 36 anos, o ex-zagueiro vive em Americana, no interior de São Paulo, e está “limpo”, como diz. Ainda sonha poder jogar profissionalmente, mas está feliz trabalhando como jardineiro. A ajuda de Mineiro e Hernanes, ídolos do Tricolor, tem sido fundamental.
De peito aberto, Flávio Donizete faz relatos fortes e tristes do período em que viveu mergulhado no vício nesta entrevista ao GloboEsporte.com. A falta de confiança da família, as amizades erradas, a busca incessante pela droga, dinheiro roubado…
– Eu usava igual louco. Aí quando eu vendi (a medalha), chegou o dinheiro e torrei quase tudo na cocaína. Na primeira pancada foi mil reais de cocaína. E eu usei em dois dias. Deu ataque, coisa no coração… O vício falava mais alto, mais forte. Quanto mais dinheiro eu tinha, mais queria.
A medalha foi recuperada. Está de novo com o ex-zagueiro. Mas sua maior conquista no período de recuperação foi poder cumprir o prometido à filha Flavia: largar as drogas e se manter sóbrio.
– Esse é um dos maiores orgulhos que tenho.
A TV Globo e o GloboEsporte.com vão reprisar o jogo do título mundial do São Paulo. A transmissão na TV Globo será neste domingo, às 15h45, para os estados de SP (capital, interior e litoral), Santa Catarina, Paraná (menos a capital), Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O GloboEsporte.com passa para todo o Brasil no mesmo horário.
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Confira abaixo a entrevista na íntegra:
GloboEsporte.com: como começou a sua trajetória no São Paulo?
Flávio Donizete: – Eu cheguei em 1998. Fiz uma peneira em Itapecerica da Serra (região metropolitana da capital paulista). O São Paulo fazia muita peneira naquela época e foi com um grupo de jogadores e comissão. Como eles não tinham time para jogar, a gente fez uma seleção de Itapecerica. Mas eu entrei por acaso. Faltou alguém, e eu fui treinar contra o São Paulo. O pessoal gostou, mas eu não tinha passado ainda. Joguei e fui para casa. Um tempo depois o São Paulo fez a peneira e passei. Eu e mais dois jogadores da época. Em 1998, eu cheguei e fiquei lá até 2009.
Como você ficou definitivamente no clube?
– Na verdade faltava um mês para acabar o contrato e aí o profissional precisava de um zagueiro para completar o elenco, porque estava faltando. O Silva (diretor da base) falou: “Vai você então, já que está faltando um, vai que é sua chance”. Fui treinar com o profissional, e o Cuca acabou gostando de mim no primeiro dia. Expliquei a ele minha situação, que eu já estava com contrato acabando e não sabia o que ia fazer. Aí no mesmo dia ele falou: “Vai lá e assina o contrato de cinco anos”. Fui, treinei, ele já conversou comigo, fui na diretoria e assinei o contrato.
Em 2005 você foi para o Mundial e conquistou o título. Como foi isso?
– Na verdade eu não iria para o Mundial. Não estava inscrito. Fizemos um último treino para o pessoal poder viajar ao Japão, e eu seria emprestado. Mas, no último dia, o Alex Bruno machucou o tornozelo. Eu já estava indo embora, saindo na portaria do CT, e o pessoal pediu para voltar: “Pediram para você voltar porque o Autuori quer falar com você”. Para mim, ele ia falar que eu ia ser emprestado, eu já sabia. Nessa que eu voltei, ele falou: “Flávio, pega uma mala lá, porque você vai viajar com a gente. Você não vai ser inscrito, mas vai viajar com a gente”.
– Fiquei muito feliz, peguei a mala, fui para casa e no dia seguinte fui viajar. Tinha a classe executiva, a classe A e a única passagem que tinha era a classe executiva. Eu fui de classe executiva! Era um avião de dois andares, negócio fora do normal. E eu fui. Cheguei lá sem estar inscrito, comecei a treinar com o pessoal no Japão e o Alex Bruno se recuperou. Mas para mim só de estar ali já estava bom. Eu estava treinando normal e na véspera da nossa estreia o Leandro Bonfim abriu a virilha e como só tinha um a mais, que era eu, fui inscrito. O Leandro Bonfim ficou assistindo ao jogo da arquibancada, e eu fiquei no lugar dele e pude participar do banco de reservas.