Preservar e valorizar a memória do povo indígena, fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade cultural, perpetuar a cultura e o conhecimento tradicional das etnias. Estes são alguns dos objetivos da BiblioÓca, primeira biblioteca comunitária indígena em Mato Grosso, que será instalada na comunidade de Rikbaktsa, localizada às margens do rio Juruena, na divisa dos municípios de Brasnorte e Juína (735 quilômetros a Noroeste de Cuiabá).
Com recursos do edital da Rede de Pontos de Cultura da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), a BiblioÓca foi lançada na quarta-feira (05.02), na comunidade Rikbaktsa, com a presença do secretário da Pasta, Allan Kardec, do adjunto de Cultura, José Paulo Traven, do prefeito Altir Peruzzo, lideranças indígenas, outras autoridades locais, servidores da Secel e da Prefeitura Municipal.
“Estamos muito felizes com esse projeto, pois será uma biblioteca pensada pelo povo indígena, com acervo sobre a cultura tradicional indígena e ribeirinha, e que terá ênfase nas histórias, na literatura e no conhecimento oral e escrito desses povos”, ressalta o secretário.
Além disso, o espaço cultural será construído pelo povo Rikbaktsa, respeitando a arquitetura e o modo de vida local. “A comunidade está abraçando o projeto com muita alegria e é muito importante para nós poder mostrar nossa cultura e estimular os jovens a estudar a história do nosso povo”, destaca o cacique Jaime Rikbaktsa.
De outro lado, a presidente da Associação das Mulheres Indígenas, Marciane Rikbaktsa, explica como o projeto irá impactar positivamente a vida deles. “Vai melhorar nossa vida, pois, além de mostrar a nossa cultura, a divulgação e venda dos nossos artesanatos será uma fonte de ajuda para as nossas mulheres”.
De acordo com o prefeito de Juína, este é um projeto sonhado desde 2017 pelo Departamento Municipal de Cultura e o povo indígena Rikbaktsa, que foi concretizado por meio do Edital da Rede de Pontos de Cultura da Secel.
“Estamos muito felizes com essa parceria, principalmente por envolver a representação indígena através da Associação das Mulheres Indígenas da Comunidade de Rikbaktsa. A previsão é de que em 60 dias a BiblioÓca esteja pronta para ser o elo de ligação entre as culturas indígenas e não indígenas na região”.
Uma das lideranças indígenas à frente da iniciativa é Nelson Mutzie, que também comemora a implementação da BiblioÓca. “Vamos mostrar para sociedade que o povo indígena também é cultura, também é vida. Nós preservamos, cuidamos da terra, e tudo isso que fazemos com o maior cuidado e carinho é para a sociedade. Esperamos que as pessoas tenham essa compreensão ao divulgar nossa cultura e mostrar nosso espaço”.
Primeira biblioteca comunitária indígena
A coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Mato Grosso, Waldineia Almeida, destaca que a BiblioÓca está sendo chamada de primeira biblioteca indígena comunitária do Estado porque não será um depósito de livros, como existe em outros lugares.
Diferente disso, a BiblioÓca atenderá a requisitos de classificação de bibliotecas públicas, que devem ser espaços culturais que ofereçam serviços de utilidade pública, contribuam para o fortalecimento da cultura local e, acima de tudo, sejam reconhecidos pela população como um ambiente de difusão de conhecimento e vivências culturais.
Waldineia ressalta que a BiblioÓca terá um acervo bilíngue, com obras escritas em línguas indígenas e estará integrada ao modo de vida do povo, com a comunidade produzindo informação e realizando atividades culturais no espaço. Também será um ambiente para gerar renda, onde serão comercializados artesanatos produzidos nas comunidades locais.
Vale lembrar que a construção do espaço será feita pela comunidade local, em parceria com os alunos do curso de arquitetura da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O Departamento Municipal de Cultura de Juína auxiliará na composição de acervo e na organização do espaço.
O projeto prevê que o espaço seja um ponto de concentração de conteúdo composto por publicações, pesquisas, resultados de projetos sobre os índios Rikbaktsa que estão espalhados nos ambientes acadêmicos e institucionais. O acervo será especializado em temas dos povos indígenas do Brasil, política indigenista e questão ambiental em terras indígenas, bem como terá exemplares da literatura brasileira e mato-grossense. Contará ainda com dicionários e livros na língua Rikbaktsa.
Comunidade Rikbaktsa
Conhecidos como ‘Orelhas de Pau’ ou ‘Canoeiros’, o nome da etnia Rikbaktsa significa ‘os seres humanos’. Atualmente, os Rikbaktsa são bilíngües, tendo incorporado também o português. Vivem em terras localizadas às margens do rio Juruena, no Noroeste de Mato Grosso, dividido em cerca de 30 aldeias dentro dos limites de suas fronteiras, como estratégia de vigilância e uso dos recursos naturais.
A BiblioÓca será instalada na Aldeia Primavera, onde a comunidade vive da extração sustentável da castanha. Eles também plantam arroz, milho e mandioca em suas terras. (Os depoimentos de lideranças indígenas e prefeito de Juína foram retirados de vídeo institucional divulgado pela Prefeitura de Juína).