A reportagem da Rádio Tucunaré e site Acesse Notícias entrevistou na tarde do dia 17 o médico Dr. Auro Renan de Brito, que detalhou com franqueza sua trajetória como diretor técnico do Hospital Municipal de Juara. Conhecido pelo trabalho dedicado durante a pandemia da Covid-19, o profissional explicou como aceitou o desafio de dirigir a unidade num período turbulento, com sérios problemas administrativos e estruturais.
Segundo o médico, sua nomeação ocorreu após a saída repentina da então diretora clínica, Dra. Bruna, que foi aprovada em uma residência médica e deixou o cargo. “O hospital ficou cerca de 15 dias sem direção, num momento muito difícil, com várias polêmicas nos atendimentos, especialmente no pronto-socorro”, relatou. Após conversa com a secretária de Saúde, Maísa, Dr. Auro aceitou o convite, mas impôs condições: que as funções de diretor clínico e diretor técnico fossem separadas, para garantir maior eficiência e responsabilidade individual.
Ele contou que inicialmente houve resistência da gestão municipal, que considerava desnecessária a divisão, mas após consultar o Conselho Regional de Medicina (CRM), apresentou justificativas técnicas. “O diretor clínico precisa cuidar dos médicos e do atendimento; o técnico, da estrutura, manutenção, insumos, lavanderia, centro cirúrgico, tudo. São funções enormes, e não dá pra fazer as duas bem feitas ao mesmo tempo”, explicou.
Durante os três meses de contrato emergencial, Dr. Auro enfrentou uma série de crises, incluindo o caso de uma fratura infantil mal atendida que gerou polêmica e desgaste público. “Passamos 45 dias praticamente focados apenas em corrigir falhas no pronto-socorro e reorganizar o serviço”, disse.
Ao fim do contrato, foi aberta uma licitação para continuidade da direção. O médico participou com sua empresa, mas o processo foi vencido por outro grupo com valor bem inferior ao que ele considerava compatível com o trabalho.
“Depois, ironicamente, essa mesma empresa recebeu um reajuste expressivo três meses depois. Isso causa decepção, porque se o argumento era economizar, por que voltar ao mesmo preço depois?”, questionou.
Sobre o episódio das amostras laboratoriais abandonadas, que motivou a abertura da CPI da Saúde na Câmara Municipal, Dr. Auro esclareceu que o problema era antigo e vinha de gestões anteriores. “Não havia fluxo definido. Às vezes o laboratório assumia, outras vezes o enfermeiro ou a direção administrativa. Quando comecei a separar e identificar, encontramos material de mais de um ano guardado. Já estávamos tentando resolver quando veio a denúncia”, explicou o médico, reforçando que a situação já vinha sendo tratada internamente.
O médico Dr. Auro Renan de Brito comentou o cenário atual do Hospital Municipal de Juara após deixar a função de diretor técnico. Segundo ele, o ambiente dentro da unidade está “tenso” e com sobrecarga de trabalho para a equipe.
“O volume de atendimentos é muito grande e aumenta a cada mês. Temos falta de funcionários, contratos vencendo, promessas não cumpridas e um número insuficiente de profissionais de limpeza. Isso causa exaustão e insegurança entre os servidores”, relatou o médico.
Médicos de fora e perda de vínculos médico/paciente
Dr. Auro destacou ainda que a terceirização de serviços médicos para empresas de fora tem contribuído para a instabilidade e a perda de vínculo com a comunidade.
“Essas empresas trazem profissionais que ficam pouco tempo e vão embora. Não criam laços nem responsabilidade pessoal, porque não vivem aqui. Nós, que somos da cidade, ficamos e respondemos pelos nossos atos”, disse.
Com nove anos de atuação em Juara, ele afirma que a rotatividade e a falta de garantias desestimulam a vinda de novos profissionais.
“Hoje, não há segurança de continuidade. Como convencer um colega de outro estado a vir pra cá se, em poucos meses, o contrato pode mudar porque ficou mais barato? Isso dificulta manter mão de obra qualificada e desvaloriza quem está aqui”, observou.
Segundo o médico, a consequência dessa política administrativa é a transformação de Juara em um local de passagem, sem fixação de profissionais e sem investimento real no sistema de saúde.
“Quem mora aqui faz o dinheiro circular aqui, compra, investe, contribui com o município. Mas quem vem e vai embora leva o recurso embora também. Isso enfraquece a economia e compromete a qualidade do atendimento”, afirmou.
Ao final, Dr. Auro deixou uma mensagem aos pacientes e à população. “Eu peço paciência. O hospital atende muitos casos graves: infartos, derrames, acidentes. Quem puder esperar por um atendimento ambulatorial no outro dia deve procurar o posto ou a UPA. Mas quem precisar, vá ao hospital — o atendimento sempre haverá, e cuidaremos da melhor forma possível”, garantiu.
A reportagem da Rádio Tucunaré e site Acesse Notícias está aberto a todos os citados em entrevistas para dar oportunidade de expressar sua opinião. Em novas matérias, a reportagem reportará e acompanhará os desdobramentos administrativos e as discussões sobre a gestão do Hospital Municipal de Juara, tema que segue em destaque no debate público local.