Um estudo conduzido pelo professor Joseph Wu, da Divisão de Epidemiologia e Bioestatística da Universidade de Hong Kong, conclui que o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus (2019-nCoV) é superior a todos os dados divulgados até agora.
Os resultados foram publicados recentemente no periódico científico The Lancet.
O médico, especialista em modelos matemáticos e estatísticos de doenças, calculou que apenas na região metropolitana de Wuhan (que tem 11 milhões de habitantes), epicentro da epidemia, 75,8 mil indivíduos haviam sido infectados até 25 de janeiro.
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Até agora, números oficiais apontam 28 mil casos em toda a China continental. A doença começou a se espalhar em dezembro.
A divergência pode ser explicada, em partes, pelo fato de que casos assintomáticos ou leves nem sempre são contabilizados por não buscarem atendimento médico.
A equipe de Wu constatou também que o número de novos casos que um indivíduo infectado gera é de 2,68. A epidemia de 2019-nCoV tem dobrado de tamanho a cada 6,4 dias, de acordo com o estudo.
Diversas cidades da província de Hubei, cuja capital é Wuhan, estão em quarentena. Cerca de 50 milhões de pessoas não podem, desde 23 de janeiro, fazer qualquer tipo de viagem para outras localidades.
Mesmo assim, outras cidades chinesas e ao redor do mundo continuaram a registrar pessoas infectadas.
“Medidas draconianas”
“Wuhan é o principal centro de transporte aéreo e ferroviário da China central”, ressaltam os pesquisadores.
Até o fechamento do aeroporto, em média, 3.633 pessoas por dia embarcavam em voos internacionais. Um dos principais destinos era a Tailândia, primeiro país a registrar um caso exportado do novo vírus.
Já os viajantes domésticos de avião e trem, eram de 502 mil, na média diária, número que subiu para 717,2 mil na véspera do feriado do Ano-Novo chinês, há pouco mais de duas semanas.
O período de incubação da doença (sem manifestar sintomas) pode ser de até 14 dias, estimam autoridades chinesas e internacionais.
“Nossas descobertas sugerem que a disseminação independente de humano para humano já está presente em várias grandes cidades chinesas, muitas das quais são centros de transporte global com um grande número de passageiros de entrada e saída (por exemplo, Pequim, Xangai, Guangzhou e Shenzhen)”, frisam.
No entanto, os pesquisadores defendem “medidas substanciais e até draconianas que limitem a mobilidade da população” chinesa como forma de evitar a disseminação do vírus.
“Portanto, na ausência de intervenções substanciais de saúde pública que sejam aplicadas imediatamente, mais propagação internacional e subsequente estabelecimento local de epidemias podem se tornar inevitáveis. Na atual trajetória, o 2019-nCoV pode estar prestes a se tornar uma epidemia global na ausência de mitigação.”